Homero e a Guerra de Troia
No inicio de março, aqui no site da Red Dragon, conversamos um pouco sobre as origens de H.P.Lovecraft, pois ele é um dos temas das revistas que estão atualmente em pré-venda pela editora. Outra obra que está com sua pré-venda aberta até o dia 31 de março é O Sangue dos Mortais (Il Sangue del Mortali, publicada originalmente na edição 58 de Le Storie) com roteiro de Giancarlo Marzano e desenhos de Tommaso Bianchi o leitor terá oportunidade de participar de uma aventura de ficção histórica inspirada nas narrativas de Homero sobre a Guerra de Troia.
Mas o que foi a Guerra de Troia? Ela realmente aconteceu? Nesse breve artigo quero levantar algumas provocações sobre esses questionamentos que assombram as pessoas desde a redescoberta das ruínas da cidade de Troia mencionadas nos textos do autor grego no século XIX. Homero, inclusive que pode também nem ter existido. Então acomode-se na cadeira e aproveite a viagem.

Segundo a mitologia grega, a Guerra de Troia aconteceu depois que Páris de Troia conquistou Helena e a levou para longe de seu marido Menelau, o rei de Esparta. Esse conflito que ora tem a presença de deuses como Afrodite, Zeus e Hera, ora é resultado apenas de embates humanos, deixou fragmentos de registros em várias obras gregas e romanas, dentre eles a principal se encontra no ciclo composto por Ilíada e Odisseia de Homero.
Com uma cronologia de difícil precisão, vários pesquisadores ao longo dos anos tentaram descobrir em que momento a guerra teria acontecido e qual sua localização. Os textos forneceram pistas ao informar nomes que temos confirmação histórica, mas apenas no século XIX que vestígios materiais indicando a veracidade desta guerra foram encontrados.

As dúvidas em relação ao conflito ter sido um evento histórico ou mitológico ainda são temas em aberto e eles são construídos a partir de várias fontes contemporâneas ao período que teriam surgido as narrativas da Ilíada e da Odisseia. Muitos destes textos inclusive trazem descrições contraditórias, bem como o recorte temporal retratado pelas obras de Homero são bem restritos e passam longe dos dez anos que teria se prolongado o conflito. Ainda assim, os textos homéricos continuam como linha principal para compor esse cenário, mas com admitindo que os registros possivelmente seriam uma síntese de vários contos de cercos e expedições de gregos durante a Idade do Bronze.
Como mencionado, outra provocação que quero levantar nesse texto é em relação a Homero, pois há uma grande dúvida se ele realmente existiu. Autor que foi redescoberto pelo ocidente no século XV, Homero trazia para aquela época uma perspectiva completamente diferente de narrativa, reflexo de outra forma de fruição da poesia, totalmente ligado à tradição oral.

As primeiras dúvidas em relação a existência ou não de Homero começou a partir dos estudos do acadêmico alemão Friedrich August Wolf no fim do século XVIII. E surgiram justamente por um movimento romântico da época na qual defendia-se que os poemas épicos deveriam viriam da “alma do povo” e não de apenas um indivíduo. Seguido esse raciocínio, a trajetória de reavaliação da existência do poeta foi provocada pela percepção de sua oralidade que apresenta grandes diferenças entre as obras da Ilíada e Odisseia.
Registros históricos que mencionam sua existência são muito posteriores ao tempo que ele teria vivido e reúnem diversas incongruências cronológicas que se ligam muito mais à idealização do autor. A arqueologia também não proporcionou nenhuma evidência definitiva que poderia confirmar ou mesmo negar Homero. De qualquer forma, as duas obras literárias que lhe são atribuídas são fundamentais na tradição literária e perduram até os nossos tempos, seja fomentando pesquisas históricas sobre o período retratado, ou inspirando artistas ao longo de tantos séculos.