O Exército de Deus - Fogo e Enxofre
Atualizado: 19 de ago. de 2022
Há um dito popular que diz: "a fé move montanhas". A não ser que você acredite realmente no sobrenatural, essa frase não tem uma conotação tão literal, ainda que revele como uma crença pode ter um poder arrebatador. E a humanidade necessita dessas crenças para ser impulsionada ao futuro, nem que a crença seja nela mesma e na capacidade que existe no indivíduo e no coletivo para mudar.
O Exército de Deus - Fogo e Enxofre é uma história completa que foi lançado no Chile em 2018 pela editora Acción Comics e trazida para o Brasil logo em seguida pela editora Red Dragon no ano de 2019. Ela conta com roteiros de Claudio Alvarez, também conhecido por El Gran Guaren e Último Detetive, com arte do quadrinista e ilustrador Danny Jimenez.

Trata-se de uma trama policial provocada pela violência cotidiana da guerra urbana cada vez mais hegemônica nas cidades, as gangues em confronto, o narcotráfico contra a polícia. Essa história começa com o corpo de um padre sendo resgatado de um poste de energia elétrica pela polícia, crucificado nas alturas como um lembrete e ameaça a outro pároco que vem agindo nas sombras: Pedro Armas.
Pedro é uma espécie de Justiceiro (sim, o anti-herói da Marvel) que, depois de presenciar as crianças de sua paróquia terem sido assassinadas num atentado, resolveu levar justiça com as próprias mãos e caçar os criminosos. E apesar de contribuir para uma grande ação policial que resultou na prisão e desarticulação dos traficantes locais, os corpos que deixou pelo caminho colocaram um alvo em suas costas. Acompanhamos um tempo depois desde evento, quando uma nova onda de violência começou a assolar a cidade.

Somos apresentados a um personagem convicto de sua fé, psicologicamente despedaçado desde sua infância, e que encontrou na religião uma forma de justificar sua violência, principalmente depois que essa mesma brutalidade o provocou a abandonar o caminho da pacificação. É uma construção forte e que se desenvolve a partir de um roteiro fragmentado, mas que une passado e presente de maneira bastante orgânica e sempre com os dois tempos em constante diálogo, como se as revelações para o leitor impulsionassem a compreensão das motivações do protagonista sem atrapalhar no ritmo.
A arte de Jimenez acompanha essa ação contínua de revelações passadas e interações presentes por meio de uma narrativa bastante fluida a partir da variação das larguras das calhas entre os quadros. Uma estratégia gráfica que ao invés de utilizar a sobreposição de quadros, como geralmente ocorre em quadrinhos mais contemporâneos para simular a ação, o autor brinca com vazios e preenchimentos nas molduras, variando distâncias e intensidade do preto e branco.
O traço mais realista contribui para levar o leitor à história, pois ao trabalhar com a variação de contraste ele consegue viajar pelo tempo sem provocar confusão na leitura. Recurso que também facilita a ressaltar o tom noir da revista, com a ambientação opressiva e desesperançosa de uma sociedade perdida para o crime.